quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Não querendo ser chata

Do google

Mas a vida de escritor iniciante é um tormento. Começa pelo fato de que não sabemos por onde começar. Claro que existe aquele sonho, aquelas palavras enraizadas em alguma parte do seu coração (sim, bem brega, mas é verdade), no entanto, convenhamos, trabalhar por instinto é uma droga!

Supondo que você passou da fase inicial e conseguiu escrever o seu livro: o que raios você faz agora?

O original claramente precisa de uma revisão, todos merecem segundas e terceiras olhadas. Se você for paciente vai tentando sozinho, se não, pede a ajuda de alguém. Mas quem? Em geral profissionais cobram e nem todos têm recursos. Trabalho voluntário também não ajuda: as pessoas têm seus próprios afazeres e, em algum momento, tendem a esquecer você e sua obra.

Resultado: ou se vira sozinho e tenta revisar por conta própria ( um processo complicadíssimo para alguns autores, devido a intimidade com o texto) ou engaveta tudo. Na minha opinião ninguém deveria revisar sozinho seu próprio livro. 

Ah, e é muito fácil engavetar.

 A vida exige que você se mexa, que arrume um emprego que dê dinheiro, que faça algo para conseguir se sustentar. É extremamente fácil esquecer seus sonhos em meio à correria, e não apenas os da escrita: qualquer sonho.

Depois vem o cansaço. Se você não tem condições de se dedicar somente aquilo que realmente quer, você vai sendo desgastado dia-após-dia por tudo que não quer fazer, mas que precisa, pois do contrário como poderia sobreviver? Faculdade, trabalho e projetos.

"E por que você não fez algo relacionado ao seu sonho?"

Ora, porque meu sonho não me garante dinheiro. Desde do momento em que se decide ser escritor você provavelmente vai escutar algo como: faça um curso que tenha alguma coisa de escrita, mas que lhe confira um diploma, porque, afinal, não existe garantias de que você ganhará dinheiro com livros.

E mesmo que você tenha visto um curso de graduação a respeito da escrita criativa é necessário muita coragem para seguir o que quer de verdade, afinal, você precisa comer. E ai, se faltou a coragem ou o dinheiro para ir atrás das pouquíssimas cursos universitários sobre escrita, você faz letras, jornalismo ou qualquer coisa que lhe deixe minimamente próxima do mundo que você, na verdade, gostaria de estar (isso se é que você está cursando uma universidade e não fazendo qualquer outro trabalho que também tomará seu tempo quase integralmente).

Mas, na real, você está muito longe desse mundo. 

Depois de alguns anos você começa a se dar conta de que, de fato, deixou quase tudo para trás e sua função agora é sobreviver. Você já quase não lembra do prazer de escrever o que quer de verdade. Você escreve uma vez ou outra quando o desgaste e o cansaço não enferrujam sua determinação, já tão acabada.

Às vezes, você pode escutar autores e professores dizendo que, para se escrever, é necessária dedicação, dando total preferência a esse ofício: escrever todos os dias, aprender sobre o mercado e como se inserir nele, procurar caminhos, procurar melhorar sempre...

O pior é que eles estão certos. O pior é que, para largar tudo e escrever, é preciso coragem para assumir que terá um início (se não a vida) de incertezas. Porque, queridos, publicar não é sinônimo de vender nem de permanecer no mercado. Na verdade, agora o autor não precisa apenas escrever bem: tem de ser sua própria marca. As pessoas querem gostar de você e não apenas do seu trabalho. E se você não é muito bom em tirar fotos, twittar frases engraçadas e interessantes, ou fazer textão no facebook, já sabe: boa sorte tentando fazer seu próprio marketing. Têm aqueles que conseguem, claro que tem, não é uma obrigação ser sociável é apenas uma recomendação, principalmente se seu publico é jovem.

Se, e somente se, você conseguiu quebrar metade das barreiras que apresentei, você tem uma chance de chegar ao seu objetivo. Você escreve, você luta para ter alguém que te ajude com a revisão, você pode até fazer um dos milhares de cursos de escrita criativa, oficinas, que tem por aí ( e fazer a seleção de quais são boas de verdade, e não dinheiro jogado fora, é mais uma dor de cabeça), você batalha para ser aceito em uma editora ou se auto publicar e, o segundo maior de todos os desafios (pois escrever algo bom, já é um baita desafio): vender.  Alguns conseguem, outros, como em qualquer profissão, estão perdidos no meio do caminho por diversas razões (provavelmente as que citei aqui).

Ser escritor não é um hobby, ser escritor não pode ser um ofício para depois da aula e ser escritor não precisa ser um sonho: pode ser uma meta. Desde que você tenha coragem de realmente lutar pelo que deseja e assumir que escrever é um trabalho sim e exige a mesma demanda de tempo que qualquer outro.

Mas, convenhamos, haja coragem... talvez, ser escritor, seja uma das profissões mais ousadas do mundo: você tem de vencer o mundo para ter condições de criar seus próprios universos.







Um comentário:

  1. Esse texto é muito bom, tem me ajudado a não desanimar do meu sonho! Sou muito grato a autora que o redigiu.

    ResponderExcluir